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João Dias | Um enfermeiro na Alemanha


Colocado por | Setembro 16, 2013 | Testemunhos de Migração

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Entrevista para o Emprego Saúde por:
Mónica Sousa
Administradora do grupo do facebook
Grupo Enfermeiros em Portugal e no Mundo

João Dias, é um jovem de 24 Anos. Nasceu em Leiria, onde também frequentou o curso de Enfermagem, na Escola Superior de Saúde de Leiria. Define-se como orgulhoso e independente, apaixonado por música. Decidiu ser enfermeiro por influência da situação de saúde do pai, que o obrigava a visitas regulares a clinicas e hospitais. Aos 24 anos, conseguiu finalmente o reconhecimento do seu Diploma na Alemanha, o que lhe permite trabalhar e ser reconhecido como Enfermeiro, depois de ter trabalhado um ano com um contrato de auxiliar, com as funções de Enfermeiro. Está atualmente a trabalhar num lar de idosos na cidade de Sinzig na República Federal da Alemanha.


João, porque a Alemanha?

Já durante o curso discutia com os meus colegas a possibilidade de ir trabalhar para o estrangeiro. Com a situação actual do país, era dificil permanecer em Portugal, mas achava que nunca ia sair de lá…Eu decidi ir para a Alemanha cerca de 6 meses depois de ter acabado o curso. Na altura, ainda procurei ir para outros países, como Inglaterra, Bélgica e França, mas a Alemanha surgiu como a “resposta mais rápida”. A oferta era muito grande, e as respostas eram rápidas. Além disso, as ofertas de emprego apresentavam-se ser mais interessantes do que para outros países.

Como se processou a escolha do local de trabalho?

Eu vim para cá já com emprego. Na altura, respondi a um anúncio que pediam enfermeiros para a Alemanha, sem ser necessário alemão ou experiência profissional. Mandei currículo e fui contactado de imediato, ainda no mesmo dia, propondo-me para ir. Aproveitei logo a oportunidade, pois até à altura, não tinha tido nenhuma outra semelhante.

E a adaptação?

Não vou mentir, foi extremamente difícil. Não tinha qualquer base da língua, a não ser umas palavras que fui tentando estudar sozinho antes de ir. A cultura é bastante diferente. Por exemplo, onde estou não se janta, come-se o “Abendbrot”, que é pura e simplesmente uma sandes. A maneira de ser das pessoas também é muito distinta da de Portugal.

Quais os principais constrangimentos encontrados, ao nível social e profissional?

A língua foi a primeira. Na altura disseram que o acompanhamento no local de trabalho seria em inglês, e o que na realidade acontecia era uma Enfermeira com uma folha com frases traduzidas pelo Google Tradutor. Embora tivesse colegas portugueses a trabalhar na mesma empresa, não estávamos juntos na mesma casa. Por isso, muitas vezes pedi para escreverem o que queriam dizer e ia para casa traduzir. Por outro lado, a nossa formação é bastante diferente da que existe aqui. Eu comecei a trabalhar num Lar de idosos, e aqui os idosos são literalmente atirados aos lares, e os médicos nem sequer tentam investir por serem idosos, ou então porque o seguro não cobre o tratamento ideal.

É um desafio enorme. No curso, uma pessoa aprende as condições ideais para se trabalhar, muito embora existam muitas adaptações às técnicas. Aqui, no sítio onde comecei, não há nada parecido com condições ideais. Fiquei muitas vezes escandalizado por reutilizarem material de uso único, como sondas de aspiração. Em alguns casos, a técnica estéril não tem nada de estéril a não ser o nome. A formação deles é muito diferente da nossa, e isso é um choque enorme para quem sai directo da escola para uma realidade destas.

Neste momento, estou ainda a trabalhar num lar, muito embora comece em Outubro num Hospital. Mas com dois “estágios” feitos em hospitais alemães, posso dizer que o papel do enfermeiro aqui baseia-se muito nos cuidados de higiene e conforto. O médico é visto como o “herói insubstituível que faz tudo” e o enfermeiro como “a pessoa que eu preciso para me manter limpo”. Existem muitas técnicas que pertencem à classe médica, como puncionar, algaliar homens, colocar infusões, medicações endovenosas, entre outras. Em alguns casos, dependendo da relação da equipa com o médico, essas técnicas podem ser delegadas a alguns enfermeiros.

Confirmas que existe uma diáspora de enfermeiros portugueses já visível na Alemanha?

Onde estou a trabalhar, existem alguns portugueses. Enfermeiros somos, de momento 4, mas já fomos mais. Existem outros portugueses aqui que trabalham em áreas administrativas e técnicas, como na manutenção. Conheço também colegas que estão em outras zonas da Alemanha. Ainda somos uma pequena comunidade mas toda ela muito dissipada pelo país. Mas sem dúvida que isto é um sitio a ter em conta quando se fala em procura de trabalho fora de Portugal.

Satisfeito com a opção?

Estou a gostar. A Alemanha é um país de oportunidades. Eu acredito que, se não fosse a dificuldade da língua (e acredito que só é dificil porque não existe um grande contacto com a língua em Portugal!), seria o destino de muitos portugueses.
O custo de vida é baixo, em alguns casos, inferior ao português, e os ordenados são bons, dá para viver e juntar. Além disso, o país é muito bonito, com paisagens deslumbrantes, tanto no inverno como no verão!

 

Entrevista para o Emprego Saúde por:
Mónica Sousa
Administradora do grupo do facebook
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