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Austrália passados 6 anos, valeu a pena?


Posted by | September 24, 2013 | Migration Testemonies

Espero poder esclarecer as dúvidas daqueles que devido a conjuntura atual pensam que a emigração pode ser a solução para um futuro com pastos mais verdes, e nesse sentido olham para os diferentes países de língua inglesa (normalmente a primeira escolha) como uma opção. Penso que pela minha experiência não só na Austrália mas como emigrante desde o inicio de 2004, posso ajudar a tomada de decisões quer sejam estas de encorajamento ou na realização de que e uma impossibilidade.

australia

Recomendo a leitura do meu primeiro testemunho para o forumenfermagem, porque não vejo o valor de me estar a repetir. Como desde então, não senti a necessidade de voltar a emigrar, nunca mais voltei a procurar informação sobre o assunto. Embora tenham passado alguns anos, e saiba que houve algumas alterações na legislação, o processo e muito semelhante. Continua a ser determinante para o sucesso deste processo o teste de inglês, normalmente IELTS (penso que pode ser outro, desde que seja reconhecido) com uma média de 7 (entre 0 a 9), as traduções de documentos necessitam de ser feitas por tradutores certificados e autenticadas pelo English Council. O Visa de eleição continua a ser o sub class 457 (patrocinado pela entidade empregadora), a não ser que o registo na Ordem dos enfermeiros tenha melhorado, continua a ser um processo moroso. O que não melhorou, e quanto a isso tenho a certeza, foi o investimento monetário, a última vez que ouvi falar no preço do visa acho que estava acima dos 3000 dólares australianos, o que e um aumento de mais de 30% desde 2006-2007. Mas para melhor esclarecimentos aconselho vivamente a consulta do site do Department of Immigration and Citizenship onde poderão encontrar tudo o que e necessário para serem bem-sucedidos, alem de informação sobre estilo de vida australiano. Ou ainda diferentes tipos de visa, que poderão tornar o processo mais fácil.

Algo que sempre disse a amigos e conhecidos, e que abordei nesse primeiro testemunho, é que a emigração é um investimento para o futuro. Se comparar-mos a compra de casa, é fácil de entender que há alturas em que o investimento terá um retorno muito maior do que por exemplo em tempos de crise. No momento atual, emigrar não é a opção ideal, uma vez que o que se vê na Europa acaba por se refletir no resto do mundo. Acaba por ser um mal menor, tendo em conta a situação económica portuguesa. A Austrália apesar de neste momento continuar a ser uma economia forte, e o desemprego não ter aumentado significativamente (se não me engano continua nos 5-6%), o facto é que é mais difícil encontrar emprego, e ainda mais contratos permanentes. Principalmente nas grandes cidades, em que o orçamento está a ser racionado, continuando a haver alguma relativa abundancia em zonas remotas. Dito isto, a realidade é que continua a haver bastante trabalho, e como enfermeiro de agência (part-time agency, part-time contratado no Hospital), recebendo telefonemas diários para diferentes turnos em unidades de cuidados intensivos. Felizmente, não tenho necessidade de trabalhar mais do que 40 horas semanais.

Olhando para trás, e refletindo nas decisões tomadas e onde elas me levaram, não me arrependo de nada, antes pelo contrário, sinto que tenho tido muita sorte ao longo da vida. Felizmente a minha família está bem de saúde, não me deixando remorsos pela ausência ao longo dos anos. Inevitavelmente existem saudades, e alturas em que essas saudades são exacerbadas, aquelas alturas que merecem partilha com os nossos queridos para fazerem sentido. Alturas em que gostaria de estar em Portugal para dar apoio, ou alturas em que adoraria que a minha mãe estivesse mais perto para lhe poder dizer pessoalmente que estou noivo, ou ainda pensando no futuro, quando a Australia for invadida por Barbosinhas, poder ver a minha mãe a sorrir quando vê os netinhos a dar comida pela mão aos kangurus ou wallabies. Felizmente, apesar da distância, tentamos manter um relacionamento muito perto. Provavelmente, para alguns será um choque saberem que só vejo a família de 18 em 18 meses, mais coisa menos coisa, mas para mim tornou-se parte da rotina. Tive que aceitar desde cedo que ao contrário dos tempos em Inglaterra em que facilmente se vai passar um fim de semana a casa, agora é preciso muito mais planeamento, em vez de 50 euros são precisos 2000 dólares australianos por pessoa só para o voo, e o que em tempos seria possível fazer em 2-3 dias (o dito fim de semana) agora o mesmo período é destinado para a viajem em um dos sentidos, sem falar na semana para recuperar do jet-lag.

Acho importante dar uma ideia destas pequenas dificuldades quando se vive longe, porque embora muitos possam ter uma ideia, não há nada como vivencia-las. Assim como acho igualmente importante dar razões para motivar aqueles que não tem outras opções para além de emigrar. Eu não tenho necessidade de comparar a Austrália com outros países, porque para mim não há dúvidas que não há no mundo outro pais como a Austrália para viver. De notar que digo viver e não trabalhar, não por não oferecer condições de trabalho excelentes com diferentes possibilidades de progressão na carreira, mas sim porque desde sempre vi o trabalho como uma pequena parte da vida, importante sem dúvida, mas temos que ser felizes fora das portas do hospital (no nosso caso), para uma vida mais completa e para este investimento ser bem sucedido.

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 Eu vejo na Austrália, nomeadamente Brisbane o sitio em que passarei o resto da minha vida, não porque a idade já pesa e não me vejo a viajar mais, mas sim porque encontrei um sitio em que gosto realmente de viver. Nos meus pensamentos vejo a Austrália como uma mistura do Brasil com os países nórdicos da Europa. Com um clima fantástico em que se pode ir a praia quase o ano todo, e com um civismo quase irrepreensível, devido às leis rigorosas. Continuo a conhecer sítios novos, e todos com uma beleza impressionante. Como pequenos aperitivos, e até porque imagino que a maioria quando pensa na Austrália pensa na Opera house, a barreira de corais, ou Uluru, sugiro que façam uma procura pelo site do Mark Webber Challenge (sim, o piloto de formula um, para aqueles que seguem) e deliciem-se com as fotos da Tasmânia (um dos estados Australianos), ou o contraste do Northern Territory, encontrem fotos de Katherine.

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Como ninguém vive de paisagens, mas sim de um dia a dia normalmente numa cidade, em que a cultura é algo importante,  de salientar o profundo respeito por uma sociedade multicultural, após muitos erros do passado com os aborígenes, e fácil encontrar reconhecimento da influência da cultura aborígene. É um pais de emigrantes, o que ao longo dos anos se  tem moldado no que é hoje a sociedade atual. Devido a proximidade, é impossível não encontrar a cultura asiática principalmente nas grandes cidades, mas isso não quer dizer que não se vejam outras culturas, como da América do sul, Africana ou Europeias.

Quanto ao estado da saúde, infelizmente a situação atual esta a levar a cortes com os quais a maioria não concorda, embora reconhecem que por algum tempo se estava a viver acima das possibilidades. Dito isto, penso que um enfermeiro consegue ter uma qualidade de vida razoável, continuando a haver diferentes possibilidades de progressão na carreira. Existem diferentes níveis, desde o normal Registerd Nurse (RN), passando pelo Clinical Nurse (CN) até ao  níveis de gestão (quer de recursos humanos, quer materiais), e outros que se dedicam a educação, ou então investigação. O ordenado é irrelevante, uma vez que está de acordo com o nível de vida australiano, os impostos, as contas, as rendas e as hipotecas. Mas para aqueles que o valor do vencimento é importante, para um enfermeiro a tempo inteiro o ordenado será entre 50.000 e 80.000 dólares australianos anuais. Poderão fazer uma apreciação dos preços de rendas ou compras de casa em realestate.com.au onde se vê que o preço médio de uma casa em Sydney é 775.000 dólares, em Melbourne e cerca de 400.000 dólares.

Olhando para trás, se eu fosse um jovem de 21 anos acabado de sair da universidade e não tivesse perspetivas de emprego, ou até mesmo que tivesse umas quantas oportunidades à minha espera, não tenho duvidas que uma das melhores decisões que se pode tomar, é pôr um passaporte no bolso e sair de casa. Mesmo que seja com a certeza que um dia queira voltar a casa, teria a mesma atitude. Não há nada melhor do que nos desafiarmos a nos próprios, sobretudo quando esses desafios levam a um enriquecimento tão grande, como é o caso de viajar, e viver em países diferentes. Imagino que quem esteja a sair da universidade não tenha moedas suficientes para pagar os gastos, mas há tantos países perto de Portugal com gastos muito menores, que poderão ser uma porta para outras paragens.

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