David | Destino França | Trabalhar a 1000 km de casa
Chamo-me David Oliveira, tenho 24 anos e nasci em Coimbra. Conclui a licenciatura em Enfermagem em 2011 pela Escola Superior de Enfermagem de Coimbra.
Enfermagem nem sempre foi o meu sonho como profissão, mas por volta dos 15 anos, por incentivo da minha mãe e pelo fato de ter enfermeiros na familia comecei a ganhar o gosto pela profissão. E com o avançar do tempo fui ganhando a curiosidade para perceber a fisiologia do corpo humano, os estados patológicos e formas de tratamento dos mesmos  e, mais tarde, com a iniciação do curso de enfermagem tive a certeza que era este o meu caminho.
Após ter terminado o curso, fui mais um dos que enviaram exemplares do curriculum para todo o tipo de instituições sem obter resposta. Considero-me uma pessoa honesta, responsável, aplicada e trabalhadora e penso que a educação dada pelos meus pais me ensinou a nunca estar parado e ir em busca dos meus objectivos. Realizei três formações após o curso de enfermagem (francês para profissionais de saúde, curso de massagens terapêuticas e curso de formador) e trabalhei durante cinco meses numa pastelaria.
A ideia de emigrar nunca esteve presente nos meus ideais e até à véspera de emigrar tive sempre um pé que não queria deixar o solo português e acho que até estar na França nunca acreditei que eu iria emigrar. Aliás, muitos amigos meus também não acreditavam que eu o iria fazer, até porque tinha o sonho de poder trabalhar nos Hospitais da Universidade de Coimbra embora tenha enviado exemplares do curriculum para vários pontos do pais. Contudo, as propostas de empregos não apareciam e através de uma colega inscrevi-me numa empresa de recrutamento  e emigrei para o sul de França onde me encontro a trabalhar desde 5 de Janeiro de 2012.
David, porquê França?
A escolha da França foi motivada principalmente pelo fato de ter um irmão emigrado em França já há alguns anos – embora me encontre afastado dele mais de 800km – e pelo fato do idioma francês não me parecer muito difÃcil. Depois encontro-me sensivelmente a 1000 km de casa o que me permite deslocações mais frequentes a Portugal.
(Maubourguet, a vila onde vivo)
Como se processou a escolha do local de trabalho?
Após me ter inscrito uma empresa de recrutamento e ao fim de quatro dias de formação (dialogar em francês em contexto hospitalar) foi-me realizada uma proposta para trabalhar numa Maison de Retraite (um lar medicalizado) no sul de França e resolvi aceitá-la.
E a adaptação ?
A adaptação foi difÃcil, porque dou muito valor à famÃlia e saber que iria estar longe da minha e que iria estar, também, longe da minha namorada e dos meus amigos era complicado de suportar. Dei por mim várias vezes a revisitar fotos e a deixar cair lágrimas de saudade e de tristeza. O que me ajudou a suportar  esta mudança foi o fato de ter vindo com um outro enfermeiro, embora não trabalhássemos na mesma instituição, pois pelo menos podÃamos matar saudades da lÃngua portuguesa assim que chegássemos do trabalho e podÃamos desabafar sobre as dificuldades na adaptação. Conheci-o poucos dias antes de emigrar e hoje em dia considero-o um grande amigo.
Quais os principais constrangimentos encontrados ao nÃvel social e profissional?
É uma grande mudança o fato de deixar o nosso paÃs, e não é fácil para ninguém. No meu caso, dos principais constrangimentos sociais destaco o fato de não conhecer ninguém na vila e o fato de não dominar a lÃngua francesa tornar a tarefa de conhecer pessoas mais difÃcil. Depois o fato de não existirem muitos jovens na região tornava difÃcil fazer os programas que habitualmente fazia (sair à noite, ir ao cinema, jogar futebol, etc). Em Portugal, juntamente com o meu grupo de jovens realizava diversas atividades, principalmente no seio da vida cristã, e tinha uma vida socialmente ativa, mas ao emigrar deparei-me com muito tempo vago sem ocupações e no inÃcio foi muito difÃcil gerir esta mudança brutal. Deixei a famÃlia, deixei a namorada, deixei a musica, deixei de dar catequese, deixei de cantar na missa…embora esteja tudo presente na minha memória. Ainda hoje sinto muito a falta das atividades que realizava antes de emigar, mas não fui o único a ter de o fazer e na vida temos que fazer sacrifÃcios e lutar por nós mesmos.
A nÃvel profissional deparei-me com algumas diferenças em relação ao que tinha aprendido no curso de enfermagem, mas não muitas. Na instituição onde trabalho, deparei-me pela primeira vez com a realidade das perfusões sub-cutâneas, com o fato da primeira algaliação para a pessoa ter que ser realizada por ou na presença do médico e os cuidados de higiene e de conforto são realizados maioritariamente pelos Aides Soignantes (conhecidos em Portugal pelos auxiliares de enfermagem).
Confirmas que existe uma diáspora de enfermeiros portugueses já visÃvel na França?
Na região onde me encontro não existem muitos portugueses pois quando emigrei tive conhecimento de apenas quatro portugueses a viverem aqui. Para além de mim existe apenas um outro enfermeiro português a trabalhar nesta zona (aquele que emigrou juntamente comigo). No entanto conheço vários enfermeiros portugueses que também emigraram e que estão em vários pontos da França. Sei que nos dois ultimos anos a imigração em França por parte de enfermeiros portugueses cresceu significativamente e as condições oferecidas  aos mesmos pela França assim o justificam.
Satisfeito com a opção?
Partindo do principio em que « não podemos ter tudo o que queremos » sinto-me bem por ter arriscado e lutado para trabalhar na profissão que queria e estar a desempenhar as minhas funções em prol do outro, mesmo não sendo no meu pais. Poderia lamentar-me intemporalmente ou dizer que não sou feliz por ter emigrado, mas a minha situação não mudaria nada e apesar de ser difÃcil o regresso depois de cada visita a Portugal e de contar os dias para a proxima viagem à minha «terrinha» não me arrependo do que fiz . Estou contente por poder evoluir na carreira de enfermagem ao contrário do que acontece em Portugal atualmente. Considero que a França tem certos hábitos com os quais me identifico, consomem-se muitos legumes, dá-se muito valor à convivialidade e gostei da forma como fui acolhido pelo povo francês. Além disso esta região do sul tem paisagens muito bonitas que me lembram Portugal.
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